Debate de temas sobre a Policia Judiciária, investigação criminal, prática judiciária e temas de direito. Se quiser enviar artigos: invescriminal@gmail.com

domingo, 29 de janeiro de 2012

They´re sic (or siic)

Britânicos replicam PJ
Desde finais de 90 que a PJ dispõe de um Sistema Integrado de Informação Criminal (SIIC). Em 2000, o legislador atribuiu à PJ a centralização, análise e disseminação da informação criminal e comprometeu-se a regulamentar o SIIC.

Por:Carlos Garcia, Presidente da Associação Sindical dos Funcionários de Investigação Criminal


A ideia era que funcionasse como alguns anos mais tarde veio a funcionar o NIM – National Intelligence Model – no Reino Unido. Mas as resistências de certo corporativismo bafiento impediram o seu progresso. Ainda assim, o legislador continuou a atribuir à PJ a responsabilidade de investigação da criminalidade mais grave, complexa e organizada. Apesar do esvaziamento propositado dos seus recursos humanos e materiais e da descaracterização a que tem sido sujeita, a PJ tem cumprido a sua missão. Em 2013, concluir-se--á no Reino Unido a implantação da NCA (National Crime Agency), outra réplica da PJ, conforme desenho do legislador de 2000. Uma agência dotada de autoridade para, no âmbito da criminalidade organizada, proceder à coordenação de todas as forças policiais, à semelhança do que acontece (ainda) em Portugal, no âmbito do Protocolo UCIC.

Esclarecimentos

Mais uma opinião que vale um post:

Contrariamente ao que o autor do texto (José Braz) refere, a regra da relação entre OPCs é a da cooperação e não a excepção. Não se deve falar daquilo que não se sabe e não se vivencia ou vivenciou. O problema da PJ, que é mesmo muito grave e que leva a opiniões como esta, é que as classes dirigentes e os chamados funcionários superiores da hierarquia não fazem a minima ideia do trabalho que os funcionários da base desenvolvem, nem como o desenvolvem, limitam-se a ir à Policia para simplesmente estar lá e assegurar assim as mordomias de que auferem. Dai que quando são confrontados com noticias de que outros OPC fizeram um excelente trabalho em áreas da competência da PJ, se apressem a denunciar alegados atropelos de competências para desvalorizar esses trabalhos e concomitantemente esconder o seu real e completo alheamento no local de trabalho. Na verdade, se sempre que tal ocorresse fossem chamados a pronunciar-se e responsabilizados por não terem nenhum plano estratégico de combate para a área, talvez a situação se resolvesse, o que já perdi a esperança de que alguma vez ocorra. É que enquanto os Inspectores quiserem continuar a fazer não só o trabalho deles como o que compete aos outros, tudo vai rolando. O problema vai ser quando esses Inspectores se contarem pelos dedos duma mão. Ai o argumento dos atropelos de competência vão ser tantos que já não vão vingar. Em suma, há que repor a verdade, um Inspector, aquele que não se limita a estar no seu local de trabalho mas que vedadeiramente trabalha e produz, sabe bem que a cooperação é a regra. Os Dirigentes e ex-Dirigentes deverão é abster-se de torpedear a Opinião Pública com artigos como este, que apenas desviam as atenções dos verdadeiros problemas da PJ, os quais eles conhecem bem e, por interesses meramente pessoais e corporativistas, nunca resolveram, nem tentam resolver. No dia em que o trabalho de investigação for verdadeiramente melhor distribuido por todas as categorias e o modelo de investigação for alterado, talvez a eficácia da PJ mude e os outros OPC não tenham necessidade de ter de combater o crime da competência desta. Aliás, confesso que me custa muito a entender que aqueles que não cumprem minimamente o disposto na LOPJ em sede de definição de competências funcionais, sejam precisamente os mesmos que se insurjem contra os outros OPC e o MP e os acusam de não cumprir a LOIC sempre que fazem trabalhos da área de competência investigatória da PJ. Os outros têm de cumprir a Lei, mas nós não. Parece que, afinal, o conceito e verdadeiro significado de Hipocrisia não está bem adquirido. O Esclarecido

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Alguém que não está em negação

A hipocrisia
O sistema de organização policial, com os seus elevados níveis de sobreposição e irracionalidade, potencia um ambiente de permanente crispação e indisciplina funcional em que é regra torpedear o trabalho alheio e é excepção cooperar.

Por:José Braz, Ex-dirigente da Polícia Judiciária e Professor Universitário convidado


São diários os conflitos, as usurpações de competência, os desentendimentos, as jogadas. Um indisfarçável ambiente de mal-estar e desconfiança que sangra a capacidade global de resposta na Segurança e Justiça. Acontece porém, uma coisa espantosa! Sempre que altos dirigentes são confrontados com este estado de coisas, assistimos em uníssono a uma farsa trágico-cómica que nega e recria a realidade. Com pungentes encómios e juras de cooperação eterna.
Com um tacticismo manhoso que canta, em falsete, hossanas à cooperação e à boa-fé! Afinal está tudo bem! Não se passa nada e o sistema é perfeito! Enfim, um hino à hipocrisia ou, como diria o grande Eça, "a prudenciazinha" necessária para se continuar amesendado ao poder. Porque, também já se viu, os que têm a dignidade e a coragem de tocar na ferida, de chamar os bois pelo nome, de propor mudança, são exonerados.

Uma entrevista aplicável à PJ

Hélder Andrade. “O ex-director nacional da PSP era uma pessoa muito influenciável”
Por Rosa Ramos, publicado em 27 Jan 2012 - 03:10 | Actualizado há 4 horas 38 minutos
O presidente da Associação Sindical de Oficiais de Polícia da PSP acusa Guedes da Silva de só ter ouvido um único grupo dentro da polícia


Poucos dias depois de Miguel Macedo ter exonerado Guedes da Silva da direcção nacional da PSP, Hélder Andrade, presidente da Associação Sindical de Oficiais de Polícia (ASOP), diz ao i que a decisão só pecou “por ser tardia”. O sindicalista diz que há oficiais na PSP “que não olharam a meios” para progredir na carreira, que se tem “premiado a arrogância” nos comandos e que há despesismo na polícia. “Há quem fique com as despesas de representação e acumule casas de função com viaturas de serviço”, acusa.

Existem nove sindicatos na PSP. Serão precisas tantas estruturas sindicais?

Primeiro que tudo é preciso perceber porque é que existem tantos sindicatos. Inicialmente só existia um. Só que a tutela e a direcção nacional da PSP entenderam dividir para reinar e dispersar. Tanto quanto sei, existem sindicatos que foram criados para esse efeito.

Para estarem colados às posições da direcção nacional e da tutela?

Para fragmentarem a união sindical que existia. Penso que é necessário haver mais do que um sindicato. Se me perguntar se o actual número é exagerado e que se deve reduzir, concordo. Mas é preciso que haja pelo menos um sindicato por classe, um ou dois generalistas e uma federação. Para se salvaguardar a independência sindical. Penso que já existe a percepção, dentro da polícia, de que se deve caminhar para o federalismo. Tanto que existe uma federação.

Que conta apenas com três estruturas...

Sim, mas há processos de adesão em curso.

Tem-se falado num clima de desunião dentro da PSP. Terá a ver com a existência de tantos sindicatos?

Não, de forma alguma. Os únicos culpados pela situação que se vive na polícia são a tutela e as últimas duas direcções nacionais. Repare que o melhor dos sindicatos de uma polícia deve ser o seu director nacional. E um bom director aniquila qualquer sindicato, se tiver capacidade de negociação, de resolução dos problemas e vontade. Para que é uma empresa precisa de um sindicato se o patrão for o primeiro a defender os seus subordinados? O que acontece é que, por vezes, os directores se esquecem que têm o dever de defender os polícias e preferem agradar à tutela. Tornam-se embaixadores da tutela. Outras vezes, preferem defender uma determinada classe e atender somente a um punhado de interesses.

Que interesses são esses?

Um bom exemplo foi o que aconteceu durante a direcção de Oliveira Pereira, em que foram feitos mais de mil recrutamentos excepcionais, escolhendo-se pessoas sem qualquer tipo de critério ou transparência. Aboliram-se os concursos de promoção ditos normais – que custavam cerca de 25 milhões de euros – para se arranjar outro tipo de modelo que custou 30 milhões. O que a direcção nacional fez foi recorrer a um mecanismo que existe na lei para situações excepcionais, aplicando-o a muitas centenas de pessoas escolhidas a dedo – ou por comissão de serviço a três anos ou por graduação por seis meses. Isto saiu mais caro ao erário público e desuniu os oficiais, que olhavam para o lado e viam colegas a serem promovidos sem perceberem porquê. Foram centenas de casos, quase se roçou o favorecimento pessoal.

No caso do novo director nacional, é possível que se tenha de recorrer a esse mecanismo, dado que não haverá superintendentes-chefes para ocuparem o lugar. Choca-o, tendo em conta que há tantos oficiais à espera de promoção?

Não, porque será uma situação excepcional e porque, de facto, não existem superintendentes-chefes. Além do mais, a indigitação do novo director reúne amplo consenso e todos os sindicatos lhe reconhecem competência. Se há um entrave legal, que se ultrapasse. É exactamente para estas situações que o regime excepcional existe. Até acho que se deve fazer, de imediato, outra coisa: abrir já concursos para a provisão de todos os cargos que existem.

Em época de contenção orçamental?

A abertura de concursos não tem custos. Abre-se um concurso e as pessoas ficam graduadas numa escala. Um concurso que tenha validade por dois anos. Assim, os polícias já sabem o que os espera e que daqui a dois anos serão promovidos. Isto traria paz e sossego institucional: promovendo os polícias, ainda que não auferindo no imediato as devidas compensações pecuniárias.

E vale a pena ter a graduação e não ter o dinheiro?

A PSP é uma instituição que precisa de ser vista por dentro. É preciso perceber que numa instituição hierarquizada isto faz toda a diferença. É urgente abrir um horizonte e ter uma luz ao fundo do túnel na progressão da carreira.

O que pensa da exoneração do superintendente-chefe Guedes da Silva?

Pecou por ser tardia, há muito que deveria ter saído. Desde o início que se percebeu que não era a pessoa certa para estar à frente da PSP. Foi um excelente operacional no terreno, no palco de operações, mas não tinha perfil para o cargo.

Porque é que não era a pessoa certa?

Porque não foi capaz de resolver os problemas do oficialato, no que diz respeito às progressões e nunca mostrou vontade de unir os oficiais numa classe única. Não tinha assertividade, nem capacidade de decisão. Aliás, nunca teve capacidade de resolver questões simples, que tinham a ver com horários e que nem implicavam custos. E também não tinha capacidade negocial.

Com quem?

Com os sindicatos. Limitava-se a apresentar dados e só ouvia os sindicatos para cumprir formalismos. Mas isto já o seu antecessor, Oliveira Pereira, fazia.

Porque Guedes da Silva não resolvia esses problemas mais simples?

Só ele saberá, mas estou em crer que seria por estar mal aconselhado e se deixar levar por vozes e pessoas que não foram as melhores conselheiras.

Que pessoas são essas?

Isso já não sei. Só ele poderá saber por quem se rodeava, mas nenhum director nacional decide e cai sozinho. Cai porque tem maus conselheiros.

Está a falar dos adjuntos?

Supostamente, ele deveria ouvir os adjuntos, mas também deveria ouvir outras pessoas, não sei. Creio que a culpa não foi só dele, mas das pessoas que ouvia. Mostrou ser uma pessoa muito influenciável. E se calhar algumas das pessoas que ele ouviu foram as que mais tarde o traíram.

O antigo director favorecia uma classe específica, dentro dos oficiais?

Não posso afirmar isso. O que digo é que ele só ouvia um grupo.

Alguns desses conselheiros terão subscrito a carta dos superintendentes?

Talvez. Há oficiais na PSP – e não me estou a referir a ninguém em concreto, estou a falar no geral – que nunca pensaram ascender num tão curto espaço de tempo. Na GNR e nas Forças Armadas não se vai de capitão a general em dez anos. Houve pessoas que não olharam a meios para atingir os seus fins. Talvez os dois últimos directores nacionais, porventura por alguma ingenuidade, se tenham deixado levar por pessoas ambiciosas e cuja preocupação principal foi progredir dentro da PSP.

Se for como diz, mudam-se os directores, mas as pessoas continuam na polícia e os problemas também.

Não vejo isso assim. Deposito um grande voto de confiança no novo director nacional, porque é muito inteligente e com uma visão global dos problemas e grande conhecimento institucional. É por isso que a indigitação reuniu consenso. Não estou a vê-lo a cair nos mesmos erros e a dar ouvidos a determinadas pessoas, conforme fizeram os seus antecessores. Até porque é urgente uma lufada de ar fresco e uma mudança muito grande dentro da polícia. Impõe-se que ele dê ares de mudança e não nomeie as mesmas pessoas para a sua equipa.

Lidar com essas influências de que fala é um dos maiores desafios que Valente Gomes terá pela frente?

Penso que será um problema simples de resolver. Ele é o director e tem poder para decidir se quer continuar com uma equipa capaz de lhe arranjar problemas e de o apunhalar pelas costas ou construir um grupo da sua confiança que mostre a todos os polícias que há um rumo novo na instituição e uma mudança.

Mudança em que sentido?

Escolher pessoas com capacidade de negociação e diálogo. Tem de se acabar, de uma vez por todas, com a prepotência e o autoritarismo que tem existido nos cargos de chefia e de direcção da polícia.

Tem havido prepotência nas chefias?

Neste momento, os problemas que existem na polícia, a nível de comando e direcção, advêm do facto de se ter valorizado e premiado, com os últimos dois directores nacionais, a arrogância e a prepotência. Nenhum foi capaz, por exemplo, de ir contra uma decisão errada de um comandante distrital. Mesmo que toda a gente fosse contra e essa decisão fosse má. Nunca tiveram coragem para demitir um comandante por exercer um mau comando.

Miguel Macedo disse que com a nomeação de Valente Gomes pretende iniciar um novo capítulo na PSP. Isso é possível?

Não só é possível como é exigível. E mesmo em matéria orçamental, há imensas medidas que podem ser tomadas para reduzir custos na PSP.

Pode dar exemplos?

Acabar imediatamente com os recrutamentos excepcionais e abrir concursos. Além disso, tem acontecido um fenómeno recorrente na polícia que já não é de agora: existem determinados cargos que têm despesas de representação. Os valores são elevados e o dinheiro serve para despesas de relações públicas internas e externas – não são um acréscimo de salário, nem podem ser. Até aqui, tudo bem. O que acontece é que as pessoas recebem um determinado valor mensal para essas despesas, por norma elevado, não o gastam e esse dinheiro torna-se num acréscimo salarial.

Há desperdício na PSP?

Neste caso, quase que apetece dizer que roça o enriquecimento sem causa. E também posso afirmar que existem mais de 30 pessoas na PSP que têm direito a casa de função na cidade onde trabalham – nada contra – e que acumulam essa regalia, paga pelo Estado, com viaturas de serviço, que usam para irem dormir à cidade de origem. Há alguns que optam, e bem, ou por uma coisa ou por outra. Mas a maioria acumula as duas coisas. Por outro lado, outra medida que permitira reduzir custos seria reformar a formação dos oficiais.

Em que moldes?

Actualmente, um oficial demora cinco anos a formar e custa ao Estado 180 mil euros. Todos os anos há uma turma de oficiais com 25 alunos – o que significa que cada fornada custa 4,5 milhões de euros. O ideal seria adoptar um modelo semelhante ao da PJ: o candidato a oficial chega já com 23 anos e uma licenciatura tirada de entre um leque de cursos previamente definidos. Depois, vai tirar um curso técnico de polícia à escola de Torres Novas. A seguir, tira comando e liderança no Instituto Superior de Ciências Policiais. Assim formavam-se oficiais em ano e meio com menos um terço de despesa para o Estado. E saíam melhor formados.

Mas actualmente não saem?

Saem, não estou a dizer isso. Mas qual é a empresa que emprega recém-licenciados logo para funções de chefia? O que acontece é que quando os oficiais saem do Instituto são colocados logo a chefiar esquadras, sem terem qualquer experiência. E, na polícia, a experiência é tudo. Deveriam existir comissariados. O oficial que chega entra como comissário-adjunto e aprende durante três anos, só depois lidera. Mas isto não é culpa dos oficiais. O sistema é que está errado.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A primeira de muitas?

Mudança na PSP começou com demissão do director-nacional, explica ministro
Publicado à 01.47


Miguel Macedo anunciou, esta segunda-feira, a demissão do director-nacional da PSP


O ministro da Administração Interna disse, esta segunda-feira, que a PSP precisa de começar uma nova etapa, com novos desafios, e que essa mudança começou com a exoneração do director nacional.

Miguel Macedo falava no programa da RTP "prós e contras" no dia em que decidiu demitir o superintendente Guedes da Silva do cargo de director nacional da PSP, substituindo-o por Paulo Valente Gomes.

"Fiz uma ponderação cuidada da situação na PSP e, avaliando várias questões, considerei que era adequado proceder a esta mudança", afirmou o ministro.

Para Miguel Macedo "é importante que a PSP comece uma nova etapa, com novos desafios, com um impulso reformador, focando a atenção da instituição e do seus elementos naquilo que é a sua actividade: assegurar a paz social e a segurança pública".

No mesmo programa, o novo director nacional da PSP, que é o primeiro oficial da escola superior de polícia a chegar ao topo da hierarquia, afirmou estar "consciente das dificuldades", garantindo que tudo fará "para conseguir coesão, disciplina e trabalho" na Polícia de Segurança Pública.

O Sindicato Nacional de Oficiais de Polícia (SNOP) saudou a nomeação do novo director nacional da PSP, considerando que é "um marco histórico" para aquela força passar a ser dirigida por um oficial de polícia.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Um dia triste

Mensagem recebida via mail:
Claro Blogger, agradecia que "emprestasse" o seu espaço para lembrar o GRANDE TONI que nos deixou. TONI foram homens como tu, com a tua dedicação, empenho e brio, que deram nome à nossa casa. Um grande abraço

domingo, 15 de janeiro de 2012

A (des)organização

Por mais que uma vez, tentei lançar neste blog uma discussão que nos levasse a questionar a organização PJ.
Em boa verdade parece-me que é aí que reside o problema.
Se conseguirmos manter algum distanciamento das intervenções aqui postadas, salta à vista que tudo está mal. Quase ninguém se identifica com esta organização. Não existe uma identidade organizacional. Não existe unidade institucional.
Já aqui assisti a disputas de competência, da qualidade do trabalho e das funções entre administrativos e investigadores, como se fosse possível comparar carreiras. Já aqui assisti a disputas entre investigadores que se acham mais competentes, mais trabalhadores, mais cumpridores que outros.
Eu sou melhor que o colega do lado, a minha brigada é melhor que a vizinha, a minha secção é a "creme de la creme". A hierarquia? Uma cambada de inúteis que não fazem falta nenhuma. Aliás, dizem alguns, defensores da anarquia ou da ordem natural, que só devia haver Inspectores, que pelos seus lindos olhos ou pelos favores que fossem fazendo aos directores ou sabe-se lá a quem, e á imagem do que se passa com o sector administrativo, iam sendo nomeados para lugares de chefia ou coordenação, independentemente da sua competência, lugares de confiança portanto.
O DN terá alguma responsabilidade nisto? Claramente que sim.
Será o único responsável? Obviamente que não.

Recordo que outros que o antecederam foram criticados por não conhecerem a casa, não estarem imbuídos do espírito dos polícias, não perceberem a dinâmica duma polícia de investigação. Esses foram aliás, os argumentos para a nomeação e aclamação de um DN da casa. E qual foi o resultado? Quanto a mim bem pior que os anteriores, já que não tem desculpa para ter deixado afundar o barco.
É responsável pela desmotivação que sentem todos aqueles que acreditaram nele e se convenceram que, todos juntos, conseguiríamos reerguer a PJ.
Tinha a obrigação de saber que os profissionais desta casa vestem a camisola e iriam apoiá-lo caso tivesse feito um esforço, por muito pequeno que fosse, no sentido de resolver algumas questões do nosso caderno reivindicativo.
Deveria ter-se preocupado em sentir o pulsar da organização que se propôs dirigir e ter tido a coragem de mudar o que está mal, mesmo que para tal tivesse que substituir directores e/ou subdirectores de departamento.
Deveria saber que os bons polícias não lidam bem com fogueiras de vaidades, e que não gostam de trabalhar a toque de caixa da comunicação social e de grupos ou pessoas influentes.
Deveria saber que os profissionais de investigação desta casa são, na sua maioria, competentes, zelosos, empenhados, incorruptíveis, seres pensantes cientes de que prestam um importante serviço público e que estão fartos de serem tratados como operários não qualificados.
Até poderia ser substituído por falta de confiança política, mas sairia em ombros.
Optou por nada fazer, e a sua omissão (ou será submissão?) alastrou-se como um virus silencioso que minou ainda mais toda a estrutura da instituição, já de si pouco saudável.
Consta-se que estará de saída. Espero sinceramente que o Sr. DN e os restantes Srs. Directores que, espero, o acompanhem, não venham uma vez mais com o discurso dos resultados obtidos e tenham a dignidade de dizer publicamente que os resultados da sua gestão não lhe pertencem, mas sim à mole de excelentes profissionais que conseguem trabalhar sem que a direcção defina objectivos, sem que a hierarquia esteja presente e assuma a liderança, sem que lhes paguem condignamente as horas que retiram à família em prol do bem comum.

Com efeito faltam-nos lideres, faltam-nos referências, falta-nos espírito de corpo, mas também massa crítica e pontos cardeais que nos mostrem qual o melhor caminho a seguir.
E um dos caminhos a seguir reside em minha opinião, na reclamação de direitos e no reconhecimento do verdadeiro valor dos inspectores na estrutura da investigação. Demonstremos que, lá porque estamos na base da carreira, não somos o elo mais fraco.
Que tal como nas pirâmides do Egipto, as pedras da base são as mais fortes, quanto mais não seja porque suportam o peso das que lhe estão por cima.
Vai sendo tempo de, com responsabilidade, reclamar “o seu ao seu dono”.

Assim, não consigo entender porque razão um inspector se mostrou tão incomodado pelo facto de ter sido obrigado a justificar por escrito, uma qualquer reclamação por parte de um cidadão, seja ele quem for.
Para além de constituir em si própria uma oportunidade para exercer o seu direito de contraditar, é o reconhecimento de que o inspector é alguém responsável que responde pelos seus actos. Se me disserem para escrever, eu escrevo e alego como entendo, doa a quem doer.
É também o reconhecimento de que a PJ não sofre do mal que tantas vezes apontamos a outras forças de segurança e que se chama falta de transparência.
É ainda a prova de que o inspector da PJ tem autonomia no seu trabalho e que não é constantemente controlado pela hierarquia.
Coisa diferente é a direcção cegamente dar razão ao reclamante, a notícias ou boatos e, sem sequer atender ás razões do funcionário, tomar atitudes calcando sempre para baixo – acreditem que conheço casos desses.

Saudações cordiais
O Tripeiro

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Um fraco rei........mais um comentário que vale um post

O Director Nacional é a função mais importante da P.J.. Negar este facto e passar também o opóbrio dos insucessos ou ineficiências da casa para a classe dos inspectores, é tão somente sobrecarregá-los com mais uma responsabilidade, a somar a quase todas as outras. Dou um exemplo simples do que quero dizer: há uns anos atrás, um prezado cidadão resolveu queixar-se ao DN da forma pouco deferencial como foi tratado na P.J.. O DN, pela importância do cidadão, leu a sua missiva, e antes que aquilo lhe queimasse as mãos, atirou-a para o Director do departamento. Este, seguindo o exemplo superior, remeteu para o Coordenador, que idem, chutou para o Chefe, e este, claro, endossou ao Inspector que tinha sido o único deles todos a trabalhar verdadeiramente na situação e que tinha procurado fazer alguma coisa. O que respondeu o colega? A trivialidade do costume (ainda que verdadeira)- não foi dado tratamento especial ao cidadão, e o seu processo é igual ao de tantos outros. A resposta, de tão breve e certeira, poderia ter sido dada por qualquer um dos outros elementos da hierarquia. Mas estes limitaram-se a imitar o comportamento daquele que é visto como a pessoa/exemplo a seguir - sim, o DN, não o Inspector. Agora imaginemos que o DN, mal tivesse recebido a carta, e pelo seu próprio punho, tivesse dado a merecida resposta, e demonstrado assim que confiava no seu pessoal até prova em contrário. Teria dado o exemplo ansiado e, certamente, teria contribuído para o espírito de corpo em que todos trabalham por objectivos comuns. O exemplo, por mais voltas que se dê, vem de cima...um Inspector incompetente representa-se a ele próprio, um Director fraco representa a instituição!

sábado, 7 de janeiro de 2012

O APELO

Mensagem recebida via mail:

Caro "blogger" obrigado por este espaço de livre expressão que a Policia Judiciária tanto precisava e vai servindo,embora muito lentamente, para destapar o véu da nossa instituição e desmascarar alguns "mitos urbanos" na (vã) tentativa de melhorar a nossa Judite. Peço desculpa ainda por alguns comentários mais duros que vou enviando e que o blogger tem a "maçada" de filtrar.

Nunca tinha escrito para este Blog -que sigo há algum tempo -e hoje decidi escrever para apelar à Ministra da Justiça que rapidamente nomeie uma nova direcção para a PJ porque a Policia precisa de uma direcção,o que não tem desde que Almeida Rodrigues tomou posse. Mas não pode ser uma direcção qualquer, tem de ser alguém que conheça a "casa", que tenha vontade de mudar o "status" e alterar o funcionamento da "casa" e acima de tudo que tenha como objectivo não a promoção pessoal,mas, numa lógica de serviço público, melhorar a Policia para melhor servir a sociedade.
Esta mudança já devia ter ocorrido, pois a Policia definha a cada dia que nada se faz e aguardar até à conclusão de umas obras - ou seja 3 anos - não é solução.Daí o apelo que faço à Ministra da Justiça para ainda este mês nomear uma direcção para a Policia, sob pena de daqui a uns meses ser tarde demais.....

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Mais um tiro no pé?

Chefe das polícias quer apertar regras no ouro
Coordenador de Segurança contra "janela de oportunidade" para criminosos
Publicado às 00.50
CARLOS VARELA


A proliferação descontrolada das casas de compra de ouro está a funcionar como um meio fácil de os grupos criminosos escoarem bens roubados, sendo um incentivo aos crimes. O Gabinete Coordenador de Segurança quer controlar o negócio do ouro usado.


foto THOMAS MEYER/GLOBAL IMAGENS


A opinião do Gabinete, que coordena todas as forças policiais, surgiu na sequência de questões colocadas pelo JN a propósito do surto de crimes envolvendo ouro, designadamente os assaltos por esticão, em residências e a ourivesarias.

De acordo com a estrutura de coordenação policial coordenada por Antero Luís, secretário-geral do Sistema de Segurança Interna, o surto de roubos associados ao ouro "deve-se, em grande parte, à facilidade que existe actualmente no escoamento deste tipo de bens, com a abertura massiva de lojas de compra de artigos de ouro", estabelecendo uma relação directa entre as duas situações.

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Lisboa, Portugal
Investigador Criminal